Com duas missões agendadas por ano na China, nos últimos 12 anos, sem contar as viagens extraoficiais àquele país contratadas por clientes, são incontáveis as horas que o consultor potiguar Átila Feitosa ficou dentro de um avião, levando interessados em importar produtos chineses ou participar de feiras internacionais. Sua última parada por lá foi entre outubro e novembro do ano passado.
Este ano, depois de adiar compromissos agendados em março, abril e junho, por causa da epidemia de coronavírus, Átila ainda tem esperança que as indústrias chinesas voltem a operar em maior capacidade ainda este mês. “Se isso não acontecer, muitas empresas por aqui do varejo, tecidos, energia solar, alumínio e embalagens, entre outros, não terão mais produtos ou insumos para repor seus estoques”, antecipa.
Segundo o consultor, até agora, só 30% dos operários chineses retornaram ao chão de fábrica em razão da epidemia de coronavírus. Eventos naquele país como a tradicional Canton Fair, em Guangzhou, a maior feira multisetorial do mundo (15 de abril a 3 de maio), ou com forte presença de empresários chineses, como a Boston Seafood Show nos EUA (15 a 17 de março) já foram cancelados ou operam em marcha reduzida.
Já na Intermodal, a maior feira de logística da América Latina em São Paulo (17 a 19 de março), expositores estão cancelando suas participações para manter a saúde de seus colaboradores.
O trabalho de Átila vai desde a preparação das viagens até a prospecção de fornecedores de quaisquer produtos fabricados na China, onde através de uma parceria com um escritório em Shanghai são encontrados os fornecedores, produtos e feiras de interesse dos clientes brasileiros.
O resto é organizar as missões comerciais dentro daquilo que há de mais espinhoso no ofício, a cadeia logística, desde a coleta do produto no fabricante chinês até o seu destino final no Brasil, entregando os produtos devidamente desembaraçados perante a aduana brasileira e no endereço do comprador brasileiro.
Tudo isso está parado, por enquanto. “É o nosso pior ano desde que começamos e não poderia ser diferente”, resigna-se o consultor.
Átila Feitosa explica que as empresas brasileiras de eletroeletrônicos estão entre as mais afetadas, ao lado dos modais marítimos e aéreos, já que todas as companhias que voam regularmente para China suspenderam as operações, o que reduziu drasticamente a capacidade de espaço para cargas que seguem nos voos comerciais.
“Isso nos leva a refletir sobre o nosso grau de dependência da manufatura chinesa e se não está na hora de buscarmos alternativas de fornecimento em mercados com o do Vietnã, Singapura, Índia e também aqui no Brasil, onde existe capacidade industrial ociosa para tentar minimizar os efeitos desta devastadora situação criada pela epidemia do coronavírus”, diz Atila Feitosa.
Outros setores
Nesta quarta-feira (4), Jairo Amorim, diretor industrial da Guararapes, maior indústria do RN, disse que até o momento os efeitos do coronavírus para a companhia é zero. “Com o dólar com essa cotação os exportadores e as indústrias estão fortalecidos”, afirmou.
O problema, ele lembra, e se a situação se estender e começar a faltar insumos que, no nosso setor, são os químicos para tingimento de tecidos e estamparia. Segundo Amorim, os estoques estão tranquilos pelos próximos três meses e as encomendas da China já desembarcaram, pois os navios já estavam a caminho quando eclodiu a crise.
Já o setor das agências de viagem estão se aproveitando da situação para alavancar seus serviços profissionais que sofrem forte concorrência da internet.
Segundo a presidente da Abav local, Michele Pereira, com exceção do Norte da Itália (Milão, Veneza) e alguns asiáticos, a maioria dos clientes está recorrendo aos agentes de viagem para adiar ou trocar de destino. “Isso requer mãos profissionais, já que tantas companhias aéreas, hotéis e receptivos têm suas regras e é preciso que elas sejam observadas quando alguém vai mudar um determinado itinerário”, encerrou.
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