O medo do coronavírus em uma das cidades com mais idosos do país - Joabson Silva -->

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24/03/2020

O medo do coronavírus em uma das cidades com mais idosos do país


O que sempre foi motivo de orgulho e de reconhecimento nacional para Veranópolis agora virou um problema. Batizada de “Terra da longevidade” na década de 1990, quando a expectativa de vida local era de 71,59 anos, bem acima da média brasileira da época (63,3), a cidade ficou conhecida pelo cuidado com os mais idosos, justamente o principal grupo de risco do coronavírus. Agora se prepara como pode para a chegada da doença.

“Estamos nos preparando para o pior. Não é fácil segurar os idosos em casa. São os mais ‘cabeças-duras'”, disse o prefeito Waldemar de Carli, de 67 anos, que divide o trabalho de mandatário com o de médico cardiovascular. Ele chegou a cogitar pegar os idosos mais frágeis e isolá-los num retiro, mas depois percebeu que a medida era inviável – até pela teimosia de seu público-alvo. A prefeitura, então, passou a intensificar as visitas em domicílio dos mais adoentados – são cerca de 100, conforme o banco de dados da administração.

A prefeitura improvisou um anexo no único hospital da cidade para receber pacientes com problemas respiratórios. “Temos quatro respiradores, mas atendemos a toda a região. Essa será uma unidade só para pessoas com suspeita de coronavírus”, disse o prefeito. Desde 2016, Veranópolis possui o certificado da Organização Mundial da Saúde (OMS) de “Cidade Amiga do Idoso”. Guiada por esse mote, a prefeitura possui uma Secretaria da Longevidade, um instituto de pesquisa da longevida e está prestes a receber um hotel geriátrico, cujas obras agora devem ser adiadas por causa da pandemia.

Apesar da fama, a cidade formada por descendente de imigrantes italianos, que também é considerada o “Berço Nacional da Maçã” (onde a primeira macieira foi plantada no Brasil), industrializou-se nos últimos anos e a proporção de idosos hoje é de 16% da população, ainda acima da média nacional, que é de 10%.

A cidade com o maior número proporcional de idosos do país fica a 110 quilômetros dali. É Coqueiro Baixo, no Vale do Taquari, também no interior gaúcho, com cerca de 1.500 habitantes. Lá, a cada dez pessoas, três são idosos. Com bem menos estrutura que Veranópolis (não tem nenhum hospital), o prefeito não teve muito o que fazer: decretou o fechamento das aulas e comércios e, com “peso no coração”, cancelou as festividades da região – a principal é o Coral de Música Tradicional Italiana, que costuma ocorrer em abril e reúne grupos de idosos de diversos municípios da região.

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